E que anos? O que tinha a comemorar? Não conquistava o amor de quem tanto queria, de quem a tudo dava. Mas era amor o que queria?
Ela era medíocre, não se amava tanto quanto ao que pensava "amar" ele.
Na verdade sua mediocridade estava na falta de amor por si mesma, na sobra de afetos e uma certa obsessão por quem não via nada além de suas carnes. Nem sequer um prazer genuíno ela tinha. Só tinha o prazer de se deixar possuir por algo que queria possuir. Coisa que nunca aconteceu.
*
Ela cresceu, talvez não por fora, mas sim por dentro. O rosto pode parecer de menina, muito feliz, alegre, vívido. Aventuras e desventuras a levam à loucura. Uma mochila e um destino incerto para ela é festa.Mas por dentro ela sabe as lições que já teve da vida. Ela sabe como tratar as pessoas, porque tratamentos diversos já teve. Sabe o que é bom e inclusive, o que não é. Ela esqueceu os sentimentos que lhe arrastavam a dignidade à lama. Criou coragem para dizer que não precisa do que de fato não precisava. Aprendeu a valorizar o que tem valor. Aprendeu a defender suas carnes de famintos por um pitaco. Aprendeu que um e um nem sempre são dois, mas que às vezes, um e um podem ser o infinito. Então não mais se entrega à ilusões. Se entrega sim às paixões que a alimentam e continuam a manter sua alma vívida, mas sem ilusões. Aprendeu a vida leve, a vida suave, a vida mansa. Brigar não leva a lugar algum, agora ela adora uma conversa. Ela senta, ri, levanta, dança, senta novamente, sorri mais uma vez. Agora ela é feliz porque aprendeu o que é a felicidade passando por vales de sombra, de dor e quase morte. Agora é feliz porque espera somente por si mesma. E por ela mesma, ela segue forte, feliz, cantando, sorrindo...