1.11.13

Como não viver



Não se pode viver com medo
Ele que se aproxima como um suspiro
Um sussuro aos ouvidos
Depois que consegue permear na mente
Ocupa a frente das lentes, retinas
Tudo que se aproxima ameaça
Tudo que parte leva alguma parte
E parte...
Nos sonhos escurece as luzes
Tragédias gregas adaptadas à sua simples realidade atormentam
Tudo é motivo para um tango argentino
Me encolho como felino ferido
Ataco se sinto ameaçado
Parto do medo
Não se pode viver assim

7.7.13

Porques - procura-se entender

Por que é tão difícil entender-me?
Por que não consegue ver que o que eu preciso é do seu carinho?
Que preciso sentir que faço parte do seu mundo, do seu presente e dos seus sonhos.

Por que não quer ver o quão sozinha estou?
Por que não quer me dar só mais um pouco de amor?
É tanto assim que peço?
É pouco o que te dou?

Não quero atrapalhar sua vida
Se for pra mudar algo, só melhoraria
Mas por que me machuca assim?
Por que se mantém junto e ao mesmo tempo tão distante de mim?
Por que não consegue me ver?
Por que me deixa assim?
Por que algumas vezes esse amor parece descartável?
Por que parece que pra você será tão fácil se eu desistir?
Por que você não tenta me entender ou ao menos me ensinar a ver o amor como você?

6.7.13

pedido



Que as palavras sejam boas comigo

Eu me vejo mais como a filha
Do que a vejo como a mãe

Do ponto de vista pode surgir o choque, o contraste, o impacto
O mundo pode cair e se diluir no espaço, nas lágrimas, na xícara de café

Geralmente sou mais eu quando escrevo do que quando faço
Por isso peço que as palavras sejam boas comigo
Espero poder um dia encontrar a saída pra viver fora de onde faço o ajuntamento dessas letras a minha interpretação delas e nada mais

Seria doce poder dar os passos com tanta leveza como um simples percorrer de olhos ainda que por linhas tortas
Seria bem mais simples

Me ver como a filha é uma postura de não crescer
Não encarar que as escolhas de meus pais afetaram somente meu passado e que posso escolher o futuro
Mas amargura nos prende, nos dilacera

Queria que fosse doce como ler um poema bonito em dia de sol
Como ler um livro acompanhado de cappuccino em dia cinza
Que fosse sofrido como o parto, mas que ao menos libertasse da placenta

Umbigo, quando o vejo assimilo meu ser a outro ser, ligo os pontos e vejo que podemos ser tão iguais e diferentes, eu poderia escolher não ser nada?
A cicatriz do que um dia foi união e supriu minha existência em formação
Eu poderia escolher?

Não quero terminar com lamentos, mas gostaria de não ter lembranças
Mas a única coisa que posso pedir é que palavras, sejam boas comigo
Tem horas que são meu último abrigo

4.7.13

BONDE 365


Café da manhã pra dois.
São de 2 à quatro pães quase toda manhã.
Café e suco na mesa, pão saindo da torradeira
Duas xícaras, uma borrada de batom e outra com vestígios de seus doces lábios
Vestígios de nossas manhã sobre a mesa

Carne ou peixe? Dois filés ou duas postas, simples
Macarrão? Passei a comer mais parafuso que o meu favorito, spaghetti

Pensei nesses tempos em cortinas, toalhas de mesa, roupa de cama
As uniões nos fazem parecer caretas?
É, elas nos fazem pensar em enxovais sem ao menos perceber
Mas sendo careta ou não, não nos damos conta
Porque o que mais importa é o sol entrando pelas frestas da cortina, rolar na roupa de cama e depois tomar mais um saboroso café com você

Existe eu, existe você, existe nós
União faz mais que a força
Faz carinhos, carícias com leveza

Esse bonde me leva à loucura, à paz e à sentimentos que não imaginava existir
Bonde 365, um ano à bordo
Que não se encerrem os trilhos, não quero descer.

Daquela que te beija a nuca todas as manhã possíveis

Thais Siqueira






29.6.13

Com alma, com pés, com olhos, lábios e coração

Céu azul de Azul-BS/Argentina


Incrível como os sentimentos quando colocados na balança são inspiradores
Como nossa sensibilidade aumenta quando analisamos com os olhos do coração, sem perder a razão
A percepção, de cada toque, de cada beijo, de cada abraço
Cada momento se torna único quando vivido como se fosse o último

Poderia ter uma vida inteira de últimos momentos, desde que fossem somente mais um dia vivido intensamente

As palavras me fogem várias vezes, só tenho vontade de abraçar a quem amo e me esconder em paraísos mentais
Porque a realidade me chama para desejos e anseios que me colocam em encruzilhadas?
Que tipo de piada a vida quer fazer da minha vida?
Que tipo de aprendizados eu ainda terei e sequer imagino?

Amor, ardor, dor, calor, amor, palavras que não deviam porém combinam

Saudades, tempo que não volta e tempo que não posso acelerar
Distâncias geográficas e temporais
Os caminhos só se fazem com nossos próprios passos
Temos que pisar, um pé após o outro
E bendito o dia de cada passo que foi dado em sua direção
Escolhas do coração que não me arrependo jamais

E é assim, tudo pode acontecer
O caminho que escolhemos nem sempre no fim é como imaginamos que seria no começo
Os caminhos que sonhamos, nem sempre são os que realizamos
Mas o importante é trilhar
Com alma, com pés, com olhos, lábios e coração

O amor que dura pra sempre é o amor por tudo que foi vivido intensamente
Por tudo que o tempo não apaga
Amor atemporal, à prova de tempo vindouro e passado

13.6.13

Terra do Sol


O astro de luz se escondeu e na terra do Sol o esconderijo sou eu.
Posso abrir a janela da alma para que ele saia
Mas ele me aquece de maneira tal que não sei dizer se posso ficar sem ele

De dentro de mim poderá sair toda a luz, o calor, o ardor.
Pode ser aliviante, mas se depois sinto frio?

Não sei, mas melhor que ter para mim é ter para todos. É compartilhar.

Meus amigos são como estrelas, e haviam noites que brilhavam sem parar
Mas tem noites em que as nuvens vem à camuflar
Nnuvens que se demoram a dissipar
E assim as saudades vem à atormentar

Verdadeiras estrelas, que nas lembranças brilham agora o que foram ontem
Que a luz permanece sobre mim ainda que não estejam mais aqui
Ou não estejam assim tão perto

Dividimos um mesmo firmamento, uma mesma imensidão
E o imenso é pequeno, e a pequenice também possui longas distâncias entre psico-distâncias

Na Terra do Sol, onde o mesmo não pousa
Ilumina no mínimo 12h por dia por cima, e as outras 12h aquece por dentro


Uma mesma Terra para todos os meus amores, minhas estrelas, minhas guias
Vezes com sombras, vezes com nuvens, mas oras, sempre com o dia seguinte para ser tudo diferente ou tudo melhor do que foi

Essa é a Terra do Sol
Onde ele nasce todos os dias, não só para um, mas para todos.


30.3.13

Sobre a vida



Felicidade não se mensura, se sente
Amor não se cura, pois é a própria redenção
Os caminhos são loucos, às vezes loucos de pedra, às vezes de asfalto, às vezes de terra
Nas nuvens, pelos grãos de areia, pelas perdidas trilhas em mata selvagem
Os caminhos são loucos, vez ou outra podem ser tortos, mas já olhou o horizonte de diversos pontos?
Tem paisagem que é reta, paisagem que não
Escolho andar conforme a carruagem
Viver da melhor forma possível - hoje, o amanhã não existe
As montanhas não são retas, nossos batimentos oscilam a cada sensação
A vida nunca é estável, mas nem por isso precisamos estar em conflito com ela
A vida é louca
A vida é morrer a cada dia um pouquinho
Morre o velho para nascer o novo, mas também existem células em nosso corpo que morrem e nunca renascem, nunca se multiplicam, a vida é louca
Mas é uma loucura gostosa de viver, viver a cada dia
Ter todo dia uma oportunidade de fazer desse um dia incrível, isso não é loucura?
Imagine se vivêssemos sempre para superar o último dia que se passou
A vida seria então mais louca, mais vida

Não passaríamos os dias lembrando de dias de glória, mas faríamos mais
O ser humano é tão louco, que tem hora que gosta de lembrar do passado, chorar o passado, morrer no passado
Chega a esquecer da vida que tem em mãos, em veias, em sangue que corre pelo seu corpo
Esquece do sopro que percorre seu pacote de carne quente envolto por seu maior órgão
Não lembra que ainda tem vida para fazer mais, sempre mais, e sempre o seu melhor
Meu desejo? Simples. Que quando assim, que nos homens isso não dure muito tempo, não mais que 30 minutos, e nas mulheres isso só seja permitido por uma desculpa técnica (nos períodos de tensão pré-menstrual) e também só na ausência de chocolate nesse estado delicado

Meu desejo? É simples
Que a sua felicidade seja tamanha que não seja mensurável
Que seu amor seja tão real e verdadeiro que não procure meios de se desfazer
Que a sua vida seja realmente vida e então você entenderá cada uma dessas palavras

Boa noite, boa vida...

14.1.13

O, infinitas vezes


































O amor mora aqui, dentro de mim
O amor mora nas flores, nos jardins
O amor mora nas lágrimas e também nos risos

O amor provoca a saudade com vara curta, feito gente boba cutucando onça
O amor faz você sentir frio na barriga, calor no peito, tontura nas ideias
O amor dita o passo na trilha, a corrida pela estrada ou a lentidão nas lembranças

O amor dorme ao meu lado, me acorda com sorriso, me convida pra um bom dia
O amor sonha meus sonhos, não me deixa voar sozinha, sempre me faz companhia
O amor não me diz não, mas me diz pense mais então, nunca me proíbe

O amor me liberta
O amor me auxilia
O amor me enxerga
O amor me espera
O amor me impulsiona
O amor me levanta
O amor me deita e me ama
O amor me sorri
O amor me confia
O amor me permite
O amor me dá asas

O amor me faz acreditar

O amor é um verbo, um verso, um sujeito, um lampejo eterno
O amor é ação, é gratidão, é sentir
O amor é viver

Como se tornar um escritor cult de forma rápida e simples


texto de RAFAEL GUTIÉRREZ
TRADUÇÃO MAURO BRIGEIRO


- Que tal Pablo Domínguez Avelar? - ela perguntou com algum entusiasmo.
- Não, comum demais. Tem que ser algo extraordinário, algo que evoque mistério, uma personalidade oprimida pela angústia, um nome que evoque a beira de um precipício.
- Está difícil, disse ela.
Nosso herói, que por enquanto vamos chamar de escritor cult, na falta de um nome misterioso que evoque a beira de um precipício, fala com sua mulher na sala de sua casa. Sua história é simples: nasceu em Medellín, em uma família de classe média, estudou em bons colégios, sua mãe tinha uma biblioteca aceitável, leu desde bem pequeno e quis ser escritor. Seus pais, obviamente, se opuseram, ainda que de forma moderada: persuadiram-no para que estudasse economia ou direito, algo com o que pudesse viver. "A literatura é bonita, mas como hobby", teria dito sua mãe. O escritor cult, claro, odiava a palavra hobby e muito mais se estivesse associada à palavra literatura. Sem nenhuma convicção se decidiu pelo curso de direito, sabia que vários dos grandes escritores que admirava haviam estudado direito, lembrou que um grande mestre da ficção dissera que o melhor treinamento para escrever um romance era estudar a fundo o Código Penal. Depois de alguns semestres tudo lhe pareceu mentira, ou pelo menos bastante exagerado, mas seguiu estudando, porque não queria brigar com seus pais e perder o dinheiro que lhe davam mensalmente. O escritor cult, como todo escritor que se preze, detesta trabalhar, então seguiu estudando e foi passando nas matérias da universidade com notas medíocres, enquanto às noites ele escrevia e lia e pouco a pouco crescia seu desejo de se tornar um verdadeiro escritor cult. Mas sabia que não seria fácil. Ser escritor era fácil, ser um best-seller era fácil, inclusive ser um escritor sério e reconhecido lhe parecia uma tarefa fácil, mas ser um verdadeiro escritor cult não o era, aí estava o desafio.
Mas o que é preciso para ser um verdadeiro escritor cult? Várias coisas: ser completamente inovador, estar contra todas as correntes literárias do momento, ser hermético para a maioria de seus contemporâneos, publicar pouco (melhor ainda se toda sua obra for publicada de maneira póstuma), negar-se a dar entrevistas, usar sempre pseudônimos e -condição importante, ainda que não estritamente necessária- levar uma vida licenciosa, turbulenta, habitar o submundo, flertar com a morte. O verdadeiro escritor cult é, antes de tudo, um poeta em todo o sentido da palavra.
Nosso escritor começou sua tarefa de forma sistemática em novembro do ano de 1993, elaborando um plano minucioso com a ajuda de dois amigos que nessa época faziam parte da Oficina Literária da Universidade Autônoma. A primeira parte do plano consistia na elaboração de uma lista de autores que abarcava o melhor da história da literatura. A lista, tal como foi elaborada pelo grupo, é a seguinte: Shakespeare, Cervantes, Montaigne, Milton, Tolstói, Lucrécio, Virgílio, Santo Agostinho, Dante, Geoffrey Chaucer, o Javista, Platão, São Paulo, Maomé, Samuel Johnson, James Boswell, Goethe, Freud, Sade, Thomas Mann, Nietzsche, Kierkegaard, Kafka, Proust, Samuel Beckett, Molière, Henrik Ibsen, Tchekhov, Oscar Wilde, Luigi Pirandello, John Donne, Alexander Pope, De Quincey, Jonathan Swift, Jane Austen, Lady Murasaki, Nathaniel Hawthorne, Juan Rulfo, Herman Melville, Charlotte e Emily Brönte, Virginia Woolf, García Márquez, Emily Dickinson, Robert Frost, Wallace Stevens, T.S. Elliot, William Wordsworth, Shelley, Jhon Keats, Leopardi, Lord Tennyson, Cortázar, Swinburne, Dante y Christina Rossetti, Walter Pater, Hugo von Hofmannsthal, Victor Hugo, Gérard de Nerval, Poe, Baudelaire, Rimbaud, Valéry, Homero, Camões, Joyce, Alejo Carpentier, Octavio Paz, Stendhal, Mark Twain, Faulkner, Flannery O'Connor, Walt Whitman, Fernando Pessoa, García Lorca, Cernuda, Clarice Lispector, George Eliot, Willa Cather, Edith Wharton, Scott Fitzgerald, Flaubert, Iris Murdoch, Eça de Queirós, Machado de Assis, Borges, Italo Calvino, D.H. Lawrence, Tenessee Williams, Eugenio Montale, Balzac, Lewis Carroll, Henry James, Robert Browning, William Butler Yeats, Charles Dickens, Dostoiévski, Isaac Bábel, Paul Celan, Guimarães Rosa, Thomas Pynchon.
Muitos dias com suas noites passou nosso herói estudando as obras, fazendo comparações, observando as mudanças de estilo, os modos de narrar, a construção dos personagens, as diversas descrições e as estratégias usadas pelos escritores na construção da trama. Apaixonou-se por alguns autores, outros lhe causaram medo, teve que fazer um grande esforço para ler alguns que lhe entediavam, mas sabia que era um exercício necessário, sabia que para fazer algo realmente novo tinha que conhecer a fundo a tradição literária que o precedia.
Seus pais pensavam que ele estava completamente dedicado aos estudos e, no fundo, ainda que reprovassem de vez em quando suas leituras madrugada adentro, estavam orgulhosos da dedicação de seu filho. "Será um grande advogado", pensava sua mãe. "Será um grande político", pensava o pai. "Será um grande maconheiro", pensava seu irmão, que sempre teve um senso de realidade e sempre desconfiou das atitudes estranhas do irmão mais velho.

6.1.13

Carência

Estou carente de uma praia deserta
De estar só, aos pés do firmamento
Eu, o mar, o céu e os infinitos grãos de areia
Encher os pulmões e gritar
Gritar numa ilha deserta
Entrar no mar azul, entrar num mundo nú
Sem nada, sem dor, sem pesar nem rancor

Enchi os pulmões, tentei colocar pra fora num grito só
Mal saiu ruído, mas as lágrimas quiseram brotar
Fiquei com medo de gritar e não conseguir mais parar de chorar
Mas as lágrimas um dia secam

Ao mar as lágrimas vão se misturar e então verei que não faz sentido mais chorar
O mundo já tem água salgada suficiente
Já tem dor o bastante, não quero isso compartilhar
As dores deixarei lá, na areia, pras ondas às profundezas levar

Ainda estou carente de praia deserta, sozinha, livre pra expressar
As pessoas vêem me dando uma má impressão da vida, do mundo
Ou meu ponto de vista está tão turvo que tudo se torna confuso
Não quero demonstrar fraquezas perto delas
Não quero me abrir e contar minhas feridas
Não quero mostrar o que está quebrado

Numa praia deserta juntarei meus cacos
Estarei só comigo mesma, serei eu e eu
Vou ter que me aceitar, vou ter que me ver, vou ter que me entender

A carência é de mim
A carência é do meu sorriso que voou e não voltou
A carência é de carinho
A carência é de uma boa conversa com uma velha amiga
A carência é de sonhos
A carência é de realizar
A carência é de sentir que pode confiar
A carência é de que me segure a mão e diga que está tudo bem, que está comigo
A carência é de que me veja de verdade
A carência é uma bosta
A carência é uma bosta...