6.1.13

Carência

Estou carente de uma praia deserta
De estar só, aos pés do firmamento
Eu, o mar, o céu e os infinitos grãos de areia
Encher os pulmões e gritar
Gritar numa ilha deserta
Entrar no mar azul, entrar num mundo nú
Sem nada, sem dor, sem pesar nem rancor

Enchi os pulmões, tentei colocar pra fora num grito só
Mal saiu ruído, mas as lágrimas quiseram brotar
Fiquei com medo de gritar e não conseguir mais parar de chorar
Mas as lágrimas um dia secam

Ao mar as lágrimas vão se misturar e então verei que não faz sentido mais chorar
O mundo já tem água salgada suficiente
Já tem dor o bastante, não quero isso compartilhar
As dores deixarei lá, na areia, pras ondas às profundezas levar

Ainda estou carente de praia deserta, sozinha, livre pra expressar
As pessoas vêem me dando uma má impressão da vida, do mundo
Ou meu ponto de vista está tão turvo que tudo se torna confuso
Não quero demonstrar fraquezas perto delas
Não quero me abrir e contar minhas feridas
Não quero mostrar o que está quebrado

Numa praia deserta juntarei meus cacos
Estarei só comigo mesma, serei eu e eu
Vou ter que me aceitar, vou ter que me ver, vou ter que me entender

A carência é de mim
A carência é do meu sorriso que voou e não voltou
A carência é de carinho
A carência é de uma boa conversa com uma velha amiga
A carência é de sonhos
A carência é de realizar
A carência é de sentir que pode confiar
A carência é de que me segure a mão e diga que está tudo bem, que está comigo
A carência é de que me veja de verdade
A carência é uma bosta
A carência é uma bosta...

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